redacao@jornaldosudoeste.com

A hora da verdade

Publicado em

WhatsApp
Facebook
Copiar Link
URL copiada com sucesso!

POR ANDRÉ NAVES

No silêncio acolhedor de uma manhã que misturava o antigo e o novo, José se via diante de uma tela que mais parecia uma janela para o seu passado. Recém-promovido CEO da maior corporação brasileira do agronegócio, ele não conseguia escapar do perfume envolvente de café e bolo de fubá – uma experiência sensorial que, assim como a madeleine de Marcel Proust, o fazia viajar de volta às lembranças da infância, àquelas tardes morenas onde dona Tereza, a copeira, preparava com tanto carinho os aromas que agora se tornavam tão inevitavelmente humanos.

Na simplicidade de um gesto tecnológico, o aroma digital despertava memórias que eram, ao mesmo tempo, doces e amargas. Lembrava-se dos dias de fome e medo, mas também da dor transformada em força, de um sofrimento que, mesmo duro, moldara o homem que ele se tornara. Seus irmãos, trabalhando nos vastos campos de soja e milho, eram parte inevitável dessa história: como peças de um quebra-cabeça invisível, eles traziam à tona questões profundas, como se fossem instrumentos da vontade Divina, responsáveis tanto pelo seu triunfo quanto pelas cicatrizes da alma.

Enquanto observava essas imagens em holograma, a sensação de estar entre dois mundos – o futurístico e o ancestral – tomava conta de José. Era como se, num mesmo instante, o cheiro do bolo e o calor de um abraço perdido se misturassem aos brilhos artificiais e aos comandos digitais. E nesse turbilhão de sentimentos, ele se via lutando contra seus próprios conflitos internos. Cada lembrança do pai Jacó, da mãe Raquel, e a saudade apertada das risadas simples do passado, lembrava-o de que a vida sempre foi feita de luz e sombra.

Com o coração apertado e a mente repleta de dilemas, José entendia que o sofrimento o havia levado até ali – àquele cargo que tanto prezava, mas que também vinha carregado dos ecos de um tempo em que as emoções eram mais genuínas, menos calculadas. E então, num ato de coragem e de desejo de resgatar o que parecia estar se perdendo, ele ordenou, com a voz trêmula, mas decidida: “Chamar os irmãos!”

Naquele comando, mais que um simples ato empresarial, havia um pedido de reencontro com um passado que, mesmo marcado pela dor, era essencial para se reconhecer e compreender. E, entre o som das máquinas e as pulsações de um coração que insistia em lembrar, José percebeu que, apesar de toda a tecnologia e dos dias modernos, era o calor humano – o cheiro do café, o sabor do bolo, o abraço dos entes queridos – que realmente fazia a vida valer a pena.

6 comentários em “A hora da verdade”

  1. I’ve been surfing online more than three hours lately, but I never discovered any fascinating article like yours. It is lovely value sufficient for me. Personally, if all webmasters and bloggers made just right content material as you did, the net will probably be much more helpful than ever before.

    Responder
  2. Hi, just required you to know I he added your site to my Google bookmarks due to your layout. But seriously, I believe your internet site has 1 in the freshest theme I??ve came across. It extremely helps make reading your blog significantly easier.

    Responder

Deixe um comentário

Jornal Digital
Jornal Digital Jornal Digital – Edição 755